BAIÃO / XOTE / XAXADO
BAIÃO
"Eu vou mostrar pra vocês
como se dança o baião
e quem quiser aprender
é favor prestar atenção"
(Baião, Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira, 1946)
O baião é uma espécie de coreografia desenvolvida ao mesmo tempo em que se canta ao som deste ritmo, popular especialmente no Nordeste brasileiro. Ele provém de uma das modalidades do lundu – estilo musical gerado pelo retumbar dos batuques africanos produzidos pelos escravos bantos de Angola, trazidos à força para o Brasil.
A princípio ele era conhecido como baiano, por descender do verbo ‘baiar’, que popularmente se referia a ‘bailar’ ou ‘baiar’, expressões traduzidas no Brasil por bailar. Esta sonoridade foi gerada pelos nordestinos a partir de uma mistura da coreografia dos africanos com as cultivadas pelos nativos, somadas ainda à dança praticada na metrópole. Era, portanto, uma síntese das três culturas, muito exercitada ao longo do século XIX.
"Seu delegado digo a vossa senhoria
eu sou fio de uma famia que não gosta de fuá
mas trasantonte no forró de Mané Vito
tive de fazê bunito a razão vô lhe explicá"
O baião é um ritmo musical nordestino, acompanhado de dança, muito popular na região nordeste e norte do Brasil.
Foi na década de 1940 que o baião tornou-se popular, através dos músicos Luiz Gonzaga (conhecido como o “rei do baião”) e Humberto Teixeira (“o doutor do baião”).
O baião utiliza muito os seguintes instrumento musicais: viola caipira, sanfona, triângulo, flauta doce e acordeon. Os sons destes instrumentos são intercalados ao canto. A temática do baião é o cotidiano dos nordestinos e as dificuldades da vida.
O baião recebeu, na sua origem, influências das modas de viola, música caipira e também de danças indígenas.
"Minha morena venha pra cá
pra dançar chotis
si deite in meu cangote
e pode cochilar"
Grandes sucessos do baião:
- "Asa Branca" - Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
- "Baião de Dois" - Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
- "Mulher Rendeira" – Zé do Norte
- "Boi Bumbá" – Gonzaguinha e Luiz Gonzaga
- "Baião da Penha" - David Nasser e Guio de Morais.
XOTE
Ritmo de origem européia que surgiu dos salões aristocráticos do século XIX. Conhecido originalmente com o nome schottisch (que significa “escocesa”), dominou no período do Segundo Reinado incorporando-se depois às funções populares urbanas, passando a ficar conhecido como chótis, e finalmente xote. Saiu dos salões urbanos para incorporar-se às regiões rurais, onde muitas vezes aparece com outras denominações.
O xote veio para o Brasil por meio de José Maria Toussaint em torno de 1851, se tornando popular nas côrtes da época, já que sempre foi visto como aceitável o que é trazido do estrangeiro principalmente da Europa, todavia a influência de elementos locais como a crescente participação negra e das camadas baixas como um todo terminaram por "desvirtuar" o cunho inicialmente aristocrático que a dança possuía, passando a ser um ritmo popular no Nordeste com o xote nordestino, que na época ainda possuía uma forte preponderância político dentro do império brasileiro.
Em uma análise mais básica o xote pode ser visto como uma variação do forró.
As músicas são tocadas em rabecas ou violas, junto com o pandeiro e o triângulo, e vocalizadas por uma banda.
XAXADO
O nome provém do som que os sapatos faziam no chão ao se dançar; é uma dança do agreste e sertão pernambucano, bailada inicialmente somente por homens, que remonta da década de XX. O acompanhamento era puramente vocal, melodia simples, ritmo ligeiro, e letra agressiva e satírica. Tornou-se popular pelos cangaceiros do grupo de Lampião.
O xaxado é considerado uma dança extremamente rica em sua cultura folclórica, entretanto, ainda há muitas controvérsias sobre sua origem específica. Acredita-se que o mesmo tenha recebido influências europeias, indígenas e negras, nascendo em meio ao cangaço nordestino.
Com origens no alto sertão de Pernambuco, o xaxado foi gradativamente divulgado até o interior da Bahia pelo cangaceiro Lampião e seu grupo no início da década de 1920.
A dança pode ser desenvolvida em “[...] círculo, fila indiana, ou com um atrás do outro, avançando o pé direito em três e quatro movimentos laterais e puxando o esquerdo num rápido e deslizado sapateado” (CASCUDO, 2012, p. 732). Este é um dos passos básicos do xaxado, em que, com as mãos cruzadas atrás do corpo, pode-se caminhar, ou ainda desenvolver o passo sem sair do lugar.
Comumente os passos do xaxado estão relacionados com o tema bélico, ou seja, das lutas e guerras que os grupos de cangaceiros travavam com frequência em meio à caatinga do sertão. Deste modo, apesar dos movimentos parecerem graciosos, devem ser executados com firmeza e forte caracterização.
O rifle possui espaço importante nas coreografias de xaxado, assim, enquanto os passos são executados, a arma deve ser batida no chão ao ritmo da música, ou ainda empunhada simbolizando movimentos de guerra. Na escola podem-se usar cabos de vassouras para representar o rifle.
Música
As letras ecoadas durante o xaxado inicialmente não possuíam acompanhamento musical, se caracterizando por sua agressividade, temas bélicos inerentes ao cangaço e diversas sátiras, contudo, eram simples e fáceis de serem memorizadas pelos ouvintes (CASCUDO, 2012).
“ Lá vem sabino
Mais Lampião;
Chapéu de couro,
Fuzil na mão!
Lampião tava durmindo
Acordou muito assustado
Deu um tiro numa graúna
Pensando qu’era soldado!”
(CASCUDO, 2012, p. 732).
Esta canção ressalta características da vida no cangaço, que dentre outros pontos, esboça uma vertente lúdica, visto que retrata uma brincadeira entre Sabino e Lampião.
Em Serra Talhada (PE) cidade natal de Lampião, conhecida com a capital do xaxado, acontece desde 2002 o "Encontro Nordestino de Xaxado", organizado pela fundação Cabras de Lampião. O objetivo do evento é reunir diversos grupos de xaxado, a fim de preservar a tradição desta manifestação.
Alguns grupos de xaxado:
- Grupo Cangaceiros de Lampião - Solidão (PE).
- Os Cabras de Lampião - Serra Talhada (PE).
- Grupo Raízes Nordestinas – Fortaleza (CE).
- Grupo Pisada do Sertão – (PB).